Jovens Mães já estreia por aqui com o prestígio de vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2025 e como representante oficial da Bélgica na corrida pelo Oscar 2026. O longa marca o aguardado retorno dos aclamados diretores Jean-Pierre e Luc Dardenne (O Garoto da Bicicleta). Filmada na região de Liège, Bélgica, com uma estética realista e humanista, a obra consolida o recorde dos cineastas em sua décima seleção para a competição oficial de Cannes, reafirmando sua maestria em traduzir questões sociais complexas para as telas. O filme chega agora oficialmente aos cinemas após uma passagem premiada pela 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde a dupla de diretores foi celebrada por sua contribuição vital ao cinema contemporâneo.
Sinopse
Situado em um centro de acolhimento na Bélgica, o longa acompanha o cotidiano entrelaçado de cinco adolescentes: Jessica, Perla, Julie, Ariane e Naïma. Elas enfrentam os desafios precoces e as incertezas da maternidade sob a tutela do Estado. Através de uma narrativa em “revezamento”, a obra mergulha nas tensões emocionais e na solidariedade que floresce dentro do abrigo, retratando com crueza e empatia a busca dessas jovens por autonomia enquanto lidam com passados fragmentados e a responsabilidade de cuidar de uma nova vida.
O dilema das protagonistas
Todas as personagens apresentam um arco único, explorando diferentes vertentes do desafio de ser mãe na juventude. A narrativa foca individualmente em cada uma para aprofundar o conflito psicológico que atravessam. Suas trajetórias se cruzam no lar de acolhimento, mas preservam identidades distintas. Jessica luta contra o trauma de ter sido entregue à adoção e enfrenta a dificuldade de estabelecer um vínculo com o próprio filho. Perla deseja constituir família, mas entra em desespero quando o pai do bebê a abandona. Ariane tenta manter a conexão com a própria mãe, mesmo ciente de que o ambiente familiar é tóxico. Já Julie possui um emprego e um parceiro amoroso, mas sofre com a dependência química, uma sombra que pode ameaçar a segurança de seu bebê.
A solidariedade como sobrevivência
Além da trama individual, destaca-se a forma como a rede de apoio funciona na Bélgica. Para além da crítica institucional, o longa é um testemunho da resistência coletiva. O abrigo, que poderia ser apenas um cenário de isolamento, transforma-se em um espaço de sororidade prática. A instituição faz parte de um programa governamental estruturado, com regras claras. Além de acolher os bebês, ensina as mães a cuidarem de seus filhos e oferece auxílio financeiro. Essa rede de apoio, somada à cumplicidade entre as adolescentes, surge como ferramenta de sobrevivência, sugerindo que o afeto é capaz de romper ciclos de negligência estatal e familiar.
A maturidade artística dos irmãos Dardenne
A produção opta pela simplicidade, distanciando-se de artifícios luxuosos ou grandes valores de produção, elementos desnecessários diante da força do roteiro. A crueza das imagens, aliada à direção precisa dos Dardenne, é suficiente para absorver o espectador. A câmera inquieta que persegue as personagens, o uso magistral do som ambiente (em detrimento de trilhas sonoras manipuladoras) e a iluminação naturalista conferem ao abrigo uma textura documental. É o cinema em seu estado mais puro e ético, onde a dignidade humana permanece no centro da lente.
Conclusão
Jovens Mães não é apenas um filme sobre maternidade na adolescência, mas um manifesto sobre a urgência do cuidado. Ao recusar soluções fáceis ou finais açucarados, a direção entrega uma humanidade crua, lembrando que, por trás de cada estatística de vulnerabilidade social, existe uma identidade em busca de pertencimento. É uma obra que emociona pela simplicidade e reafirma que a solidariedade é o caminho para a preservação da esperança. O longa deixa uma marca profunda e a certeza de que a beleza, no cinema dos Dardenne, reside no ato corajoso de não desviar os olhos da realidade.
Jovens Mães estreia nos cinemas em 1º de janeiro.

