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Pedaço de Mim, um bom drama que aborda a deficiência de forma autêntica

Pedaço de Mim (Mon Inséparable) é um drama francês emocionante dirigido por Anne-Sophie Bailly. Essa obra marca a estreia da diretora em longas-metragens, além também de roteirizá-lo. Apesar disso, ela mesma disse que a produção foi um organismo vivo, onde todo o elenco participou do processo de criação. O filme foi selecionado para alguns festivais como a Mostra Orizzonti do Festival de Veneza e o nosso Festival do Rio. Em resumo, o longa aborda temas sobre o amor, sacrifício, paternidade e deficiência, explorando as complexidades e os desafios dos relacionamentos de forma bem autêntica e sem idealizações.

Sinopse

A trama gira em torno de Mona (Laure Calamy), que vive com seu filho adulto, Joël (Charles Peccia). Ele é uma pessoa com deficiência e trabalha em uma instituição especializada. Ele se apaixona perdidamente por Océane (Julie Froger), uma colega de trabalho que também possui deficiência. Mona, que não sabe do relacionamento dos dois, é surpreendida ao descobrir que Océane está grávida. A gravidez de Océane força escolhas e abala o vínculo simbiótico e intenso entre Mona e Joël, explorando temas como a busca por independência, os laços familiares e a parentalidade entre pessoas com deficiência.

Uma bela interpretação de Laue Calamy

A primeira coisa que preciso destacar é a atuação de Laure Calamy (Contratempos). Ela não chega a carregar o longa sozinha, mas brilha demais. Sua interpretação capta todas as nuances de um relacionamento entre mãe e filho de forma muito real, sem soar romanceado. Parece que estamos presenciando uma situação crível, e não idealizado para se ver em telas. Ela faz uma mãe que possui muito amor pelo seu filho, mas que é falha, pois sentimos o quanto ela se sacrifica diariamente para cuidar dele. O prenúncio da independência dele para o mundo a abala de um modo do qual não esperava. É a partir daí que sua atuação ganha força.

Abordagem da deficiência sem romantismos

Outro destaque de Pedaço de Mim é a forma como a sexualidade e a parentalidade entre pessoas com deficiência são abordadas. A diretora não procura mostrar uma história de superação no sentido tradicional da palavra. Longe de qualquer clichê ou romantização, o filme consegue discutir temas como consentimento, desejo e a capacidade de amar e gerar uma família. Ela não foca na deficiência desse casal, mas no indivíduo. Apesar de algumas dificuldades, conseguem lidar muito bem com o mundo sozinhos. Impressionou-me o fato de que na França eles realmente se importam com essa questão. Não sei como essa questão é tratada no Brasil, mas me deixou bastante pensativo.

Um filme autêntico

A escolha da diretora por mostrar uma obra autêntica, com profundidade emocional e um realismo belo e doloroso, revela uma maturidade narrativa notável para alguém em início de carreira. A escolha de atores com deficiência nos papéis de Joël e Océane não apenas se torna uma questão de representatividade, mas também capta a veracidade e credibilidade das performances para a história. O filme consegue deixar o espectador desconfortável em muitos momentos e apresenta dilemas morais constantemente, levando o público a refletir sobre tudo o que acontece em tela.

Conclusão

Pedaço de Mim é um bom filme, mas sinto que ficará relegado a um nicho de cinéfilos. Certamente estreará apenas em algumas salas, mas garanto que esse é um bom drama para ser apreciado. Não chegará a ser a melhor coisa que verá por aí, mas acredito que sua mensagem será transmitida de forma eficiente. O amor incondicional de mãe e filho retratado de forma real é uma boa jornada até mesmo para refletirmos alguns momentos de nossas vidas. É possível traçar paralelos com nossas próprias vidas, o que enriquece a experiência de assistir ao filme.

Pedaço de Mim estreia nos cinemas em 03 de julho.

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