Perfeitos Desconhecidos é a aguardada versão brasileira do fenômeno cinematográfico italiano Perfetti Sconosciuti (2016), detentor de um recorde mundial no Guinness Book pelo maior número de remakes na história. Dirigido por Júlia Jordão, marcando sua estreia em longas-metragens, e estrelado por um elenco de peso que inclui Sheron Menezzes e Danton Mello, esta adaptação nacional traz um toque tipicamente brasileiro ao substituir o tradicional jantar por um churrasco. A produção se destaca por reescrever completamente os segredos da trama, garantindo surpresa até para quem conhece as outras 24 versões, além de incluir uma abordagem contemporânea que aumenta a tensão dramática da história.
Sinopse
Amigos de longa data se reúnem para um churrasco de inauguração na casa de um casal do grupo, mas o dia toma um rumo inesperado e explosivo quando propõem uma brincadeira: colocar todos os celulares sobre a mesa e compartilhar em voz alta cada mensagem, ligação e áudio que chegar. O que começa como um exercício de confiança leve logo se torna uma catástrofe social, revelando uma teia de traições, segredos guardados e verdades íntimas que ameaçam destruir casamentos e amizades, forçando o grupo a confrontar a realidade de que a vida digital esconde facetas desconhecidas até mesmo de seus entes mais próximos.
Identidade brasileira para este remake
Embora o longa original não seja tão famoso para o público geral aqui no Brasil, a chance de você já ter visto esta história é grande. Eu, pelo menos, já vi duas versões, e contando. Essa versão brasileira chega como a mais nova incursão desse sucesso global. Porém, essa releitura buscou garantir uma personalidade própria e a “abrasileirou” com o nosso tempero, mudando alguns segredos e inserindo novas dinâmicas. Devo dizer que essa nova roupagem me agradou e ainda conseguiu me deixar curioso com o que iria acontecer pela frente. O caos chega e transforma essa dinâmica de amizade em uma verdadeira tempestade. Nesta nova obra, encontramos uma experiência nova, ácida e profundamente relevante para o contexto social do país.
Celulares como Caixas de Pandora
O uso do celular como uma Caixa de Pandora continua sendo o cerne da história. Contudo, o filme faz mais do que apenas criticar a fragilidade dos laços na era digital: ele atualiza sua crítica social. Ao contrário de suas versões anteriores, o filme reflete a evolução social ao introduzir um casal lésbico já estabelecido, assim como uma adolescente que ganha dinheiro com o celular na Internet, e o envolvimento da pirâmide financeira com criptomoedas. Dessa forma, o mistério e a tensão não residem em orientações sexuais ou traições entre membros do grupo, mas sim em outras questões contemporâneas e complexas. Essas novas escolhas tornam a narrativa mais moderna, provando que, para o público atual, o drama é menos sobre quem você ama e mais sobre as hipocrisias que você esconde em seu dispositivo.
A exposição da hipocrisia
O maior acerto da história é destrinchar a hipocrisia que permeia as relações de longa data. À medida que as mensagens e os áudios são revelados, caem as máscaras cuidadosamente construídas pelos personagens. O que parecia ser um grupo unido e feliz de amigos e casais perfeitos se desfaz em fragmentos de mentiras, traições e ambições ocultas. O filme funciona como um espelho desconfortável que nos força a questionar a autenticidade dos laços afetivos na era da informação, demonstrando o quão pouco conhecemos a verdadeira essência e as escolhas secretas daqueles com quem dividimos a vida. Quem julga, acaba sendo julgado depois e isso nos revela o lado primitivo de cada um.
Conclusão
Perfeitos Desconhecidos consegue mostrar uma personalidade diferente de outras versões e ainda assim preservar toda a essência da história original. A direção de Júlia Jordão não apenas diverte com seu suspense crescente, mas também nos deixa com uma pergunta incômoda: se nossos celulares fossem postos à prova, o quão perfeitos ou desconhecidos seríamos para aqueles que mais amamos? É uma obra que vale ser vista não apenas pela performance do elenco, que por sinal está incrível, mas pela reflexão perturbadora que ela acende sobre a verdade, a mentira e a frágil esperança que tentamos manter trancada em nossas próprias caixas de segredos.
Perfeitos Desconhecidos estreou nos cinemas em 11 de dezembro.

