Sonhos é um drama intenso que marca o retorno do aclamado cineasta mexicano Michel Franco, conhecido por obras provocativas como Nova Ordem (2020) e Depois de Lúcia (2012). Este novo longa-metragem apresenta a vencedora do Oscar, Jessica Chastain (A Hora Mais Escura), em um papel complexo ao lado do bailarino Isaac Hernández, que faz sua estreia no cinema como ator principal. A produção, que teve um orçamento de cerca de US$ 12 milhões e foi selecionada para o Festival de Berlim, aborda temas atuais de classe e imigração com uma abordagem cinematográfica bastante controlada e precisa, além de um nível de tensão lenta.
Sinopse
A trama se desenrola a partir do envolvimento secreto entre Jennifer (Jessica Chastain), uma rica socialite e filantropa de São Francisco, e Fernando (Isaac Hernández), um jovem e talentoso bailarino mexicano em busca de oportunidades nos EUA. Impulsionado pelo desejo de reencontrá-la e seguir seus objetivos, Fernando atravessa a fronteira ilegalmente, desencadeando, assim, uma série de conflitos. Portanto, este romance arriscado confronta as realidades de classes sociais opostas, os dilemas da imigração e o poder que Jennifer detém, ameaçando desestabilizar a vida que ela construiu e expondo as contradições desse relacionamento.
Temas sociais e crítica cultural
Um dos grandes pontos do filme é a relevância no momento atual por abordar questões contemporâneas como imigração, privilégio e o abismo entre classes sociais. Em primeiro lugar, a travessia ilegal da fronteira por Fernando serve como um catalisador para a discussão sobre xenofobia e a desumanização do imigrante. Além disso, o vínculo com Jennifer expõe a hipocrisia da elite filantrópica, questionando onde termina a caridade e começa a dominação. Dessa forma, o longa-metragem se torna uma análise desconfortante sobre o pertencimento e como o poder financeiro e social dita a validade dos “sonhos” de cada um. O conto de fadas acaba quando o poder e o desejo de uma pessoa se sobressaem sobre a outra.
A dinâmica de dominação e o colapso final
O relacionamento entre Jennifer e Fernando é moldado por uma assimetria de poder flagrante, de tal modo que a dominância da socialite sobre o bailarino mexicano se manifesta em múltiplas camadas. Inicialmente, a diferença de classe e a condição de Fernando como imigrante ilegal conferem a Jennifer um controle quase total, permitindo que ela dite os termos do envolvimento e de sua vida nos EUA. Consequentemente, a confiança de Fernando no amor de Jennifer é brutalmente confrontada com o preconceito e o desejo dela de usá-lo e escondê-lo. Essa dominação crescente culmina em consequências avassaladoras, revelando a verdadeira natureza doentia do “amor” de Jennifer e levando Fernando a uma situação de vulnerabilidade e desespero, destruindo seus sonhos iniciais com a dura realidade do privilégio e da traição. A balança sempre penderá para o mais fraco.
Direção de Michel Franco
O filme se sustenta nas atuações centrais, principalmente na entrega sutil de Jessica Chastain e na estreia, contestada, de Isaac Hernández. Em paralelo, o aclamado diretor Michel Franco emprega seu estilo autoral a fim de intensificar o desconforto e a reflexão moral. O uso contido da trilha sonora ajuda a construir uma tensão lenta, porém palpável. O cineasta mexicano leva o espectador a confrontar as ambiguidades éticas dos personagens. Consequentemente, ele transforma o drama íntimo em uma crítica social provocativa sobre estruturas de dominação, desigualdade e as fronteiras geográficas e emocionais erguidas na sociedade.
Conclusão
Sonhos é um bom filme que nos traz um final trágico, cruel e condizente com o que a história se propõe desde o início. A obra cumpre seu papel de gerar discussão e penetra no pior do ser humano para deixar suas ideias evidentes. O ponto negativo fica por reforçar estereótipos xenófobos, dando certas razões para o preconceituoso, mesmo que o diretor queira discutir que essas pessoas e seus ódios são criados por pessoas abastadas. A direção de Franco e a atuação de Chastain são pontos positivos e posso dizer que o filme é indicado para o público que aprecia dramas sociais densos, sem finais fáceis, e que busca ser provocado a refletir sobre as tensões entre amor, poder e realidade em um contexto global complexo.
Sonhos estreia nos cinemas em 30 de outubro.

